quarta-feira, 1 de abril de 2009

Salada com Café: Episódio 4 - Os "Coroné" do Brasil

Estamos aqui postando mais uma vez. O blog ainda que visitado somente por este que vos escreve, e pelo colega Rafael C., ainda dá sinais de vida.

Na semana passada, apesar de a repercussão não ser tão grande, dois peixes muito grandes foram alvos da Polícia Federal: os Tranchesi, e os Camargo Correa. Está até parecendo nome de máfia italiana dos anos 30. Mas que fique bem claro, não estou dizendo que essas duas são um grupo criminoso. Reservo-me no direito de só obter uma conclusãoobjetiva quando a ultima instância do Judiciário nacional proferir a sua decisão. E o famoso princípio legal, que surgiu após a inquisição, indubto pro reu, ou seja, "na dúvida, a favor do réu".

Mas o Brasil sempre foi assim não é? Há duas semanas acabei de ler o Livro "Código da Vida", de Saulo Ramos. Não posso dizer que tudo que lá foi dito opera-se como verdade, mas que sua visão, como alguém que trabalhou nas entranhas da [nojenta] máquina política, merece ser considerada.

São pessoas, que gastam tanto tempo e energia matutando como passar a perna nos outros, que me faz refletir: por qual motivo não invertem essa ordem de raciocínio? Passam a raciocinar como melhorar o Brasil?

Essa é uma pergunta que ainda não posso responder. Me falta ainda muito conhecimento.

Mas por ora ficamos com o pensamento do jornalista e professor da USP Gaudencio Torquato, colunista da secão "Porandubas Políticas", publicado hoje.

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Coronelismo

O coronel Lucas Pinto, que comandava a UDN no Vale do Apodi (RN), não dormia em serviço. Quando o Tribunal Eleitoral exigiu que os títulos eleitorais fossem documentados com a foto do eleitor, mandou um fotógrafo "tirar a chapa" do seu rebanho, aliás, do seu eleitorado. Numa fazenda, um eleitor tirava o leite da vaca quando foi orientado a posar para a foto. Não teve dúvida : escolheu a vaca como companheira do flagrante. Mas o fotógrafo, por descuido, deixou-o fora. O coronel Lucas Pinto não teve dúvida. Ao entregar as fotos aos eleitores, deparando-se com a vaca, não perdeu tempo e ordenou ao eleitor : "prega a foto aí, vote assim mesmo, na próxima eleição, nós arrumamos a situação".

...Noutra feita, o coronel levou as urnas de Apodi para o Juiz, em Mossoró, quase 15 dias após as eleições. Tomou uma bronca.

- Coronel, isso não se faz. As eleições ocorreram há 15 dias.

- Pode deixar, "seu" Juiz. Na próxima, vou trazer bem cedo.

Não deu outra. Na eleição seguinte, três dias antes do pleito, o velho Lucas Pinto chegava com um comboio de burros carregando as urnas. Chegando ao cartório, surpreendeu o juiz :

- Taqui, seu juiz, as urnas de Apodi.

- Mas coronel, as eleições serão daqui a três dias.

- Ah, seu juiz, não quero levar mais bronca. Tá tudo direitinho. Todos os eleitores votaram. Trouxe antes para não ter problema.

Idos das décadas de 50/60. Não havia grandes empreiteiras financiando campanhas. A empreitada ficava mesmo a cargo dos coronéis.

* Gaudêncio Torquato é jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.

4 comentários:

  1. O cenário político brasileiro é ridículo, e até eu, como um leigo no no assunto, posso afirmar isso com plena convicção.

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  2. Importante: além de mim e você (Crox) frequenta aqui o Armenio também, o crescimento é lento, mas cresce! Ou como diria o outro, é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
    E o que é esse vídeo, desculpem-me a ignorância...??
    Adorei a do Coronel, HAHAHA! Cheguei antes pra não ter problema! HAHAHA! AR RA SOU!
    Sim, eu leio em horários estranhos. Na verdade, não estranhos, mas silenciosos... Eu diria.

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  3. Talvez fosse hora, Eduardo, de V. começar a pensar em ir direto ao ponto e ler Raimundo Faoro, "Os Donos do Poder".
    Parabéns pela iniciativa. Me interessou!
    Elizabeth Corrêa

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  4. Complementando, como aperitivo sugiro o artigo "Sonegando Democracia" do colunista Daniel Pisa n'O Estado de S. Paulo do domingo de trasanteontem.

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